sábado, 23 de fevereiro de 2013

Aniversários das Ordens, Condecorações e Medalhas Portuguesas




A Medalha Militar nasceu a 2 de Outubro de 1863.
(anverso da MM CompExemp, prata, foto do autor)

Este é uma postagem de referência, que conto atualizar aos poucos, e apresenta as datas de nascimento/criação das ordens e condecorações portuguesas, civis e militares, que existem hoje.

10 de Maio (1918) – Medalha de Feridos em Campanha (começa como Insignia de Mutilados e Estropiados de Guerra, uso apenas de barreta).
28 de Maio (1946) – Medalha de Mérito Militar.

2 de Outubro (1863) – Medalha Militar (Valor, Bons Serviços/Serviços Distintos & Comportamento Exemplar)
16 de Outubro (1861) – Medalha das Campanhas da Liberdade e de Serviços Civis (Guerra Civil, 1828-1833)
30 de Outubro (1919) – Medalha da Vitória (I Grande Guerra)

30 de Novembro (1916) – Cruz de Guerra + Medalha de Campanhas (medalha comemorativa das Campanhas do Exército Português, a partir de 18.1.1917)

16 de Dezembro (1863) - Medalha da Divisão Auxiliar a Hespanha (1835 a 1837).
17 de Dezembro (1795) - Granada e Peça do Roussilhão (1793-1795)
23 de Dezembro (1895) – Medalha D. Amélia (Moçambique e India, 1895 e depois para todas as campanhas no Ultramar até 1910. É substituída em 1916 pela Medalha Comemorativa de Campanhas (v. 30 de novembro).

Para mais informações sobre as medalhas, recomendo a página Medalha Militar da Wikipedia portuguesa.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

História da Medalha de Campanhas: Roussilhão (1793-1795)

Jorge Quinta-Nova


O Marechal de Campo Francisco de Magalhães Pizarro (1776-1819), 
usando a Granada de ouro no braço esquerdo.
Entre 10 e 11 de dezembro do longínquo ano de 1795, chegavam ao porto de Lisboa as tropas portuguesas que vinham de ter participado nas Campanhas do Roussilhão. Após a paz separada, negociada entre a Espanha e França, através do Tratado de Basileia, assinado a 22 de julho desse ano, e que deixou Portugal de fora, os nossos soldados voltavam finalmente a casa. Eram o Exército Auxiliar à Coroa de Espanha, forte  de cinco mil homens entre infantaria e artilharia, comandandos pelo tenente general John Forbes, enviados por Portugal no âmbito da Primeira Coligação.


Nos Quadros Navaes (1869), Joaquim Soares dá-nos o cenário de felicidade que sempre acontece quando os nossos soldados retornam à Pátria. O príncipe regente D. João, que vinha na altura de Queluz para as Necessidades, sabendo da chegada de algumas das embarcações a Lisboa, tomou a decisão de embarcar no cais de Belém ao seu encontro. No dia seguinte, o príncipe fez questão de assistir, da varanda do palácio de Belém, com sua esposa, a princesa D. Carlota Joaquina, ao desembarque dos bravos. Estes, à medida que tocavam de novo no solo pátrio, começavam a formar. Completando o cenário, e como refere Joaquim Soares, “offerecia um bem terna scena a grande multidão de gente que se achava no local […], e em todas as ruas por onde as Tropas devião passar, para mostrarem a sua consolação em ver restituidos ao Paiz os parentes e amigos” [1].


O Brigadeiro Jorge Frederico Lecor (c. 1770-1822),
usando a Peça no braço direito, de forma regulamentar,
mas em ouro (Museu Quinta das Cruzes).
A Campanha do Roussilhão, ou Guerra dos Pirinéus, como também ficou conhecida, foi um dos conflitos da chamada Guerra da Primeira Coligação, que decorreu em vários teatros, entre 1792 e 1797. A participação portuguesa neste conflito tornou-se inevitável, tendo em vista um acontecimento notável: a execução do rei Louis XVI, na atual praça da Concorde, às 10:20 do dia 21 de janeiro de 1793. Ainda que não tenha optado por uma participação direta, Portugal enviou uma força para auxiliar a Espanha no teatro dos Pirinéus, forte de 5000 homens, a mesma que agora retornava.

Seis dias depois destas enternecedoras cenas da receção das tropas portuguesas, nascem, no Palácio de Queluz, as primeiras insígnias falerísticas (i.e., de distinção) destinadas a comemorar a participação de soldados portugueses numa campanha. A 17 de dezembro, O Príncipe Regente D. João assina dois decretos em que estabelece a ‘Granada’ e a ’Peça’, para premiar os dois ramos que combateram nos campos do Roussilhão e na Catalunha; efetivamente a primeira ‘medalha’ de campanhas das Forças Armadas Portuguesas. Não desprezando outras peças de natureza falerística anterior (quiçá mais próximas da exonumia), estas foram as primeiras a ser criadas para serem usadas pelos soldados e, mais, por todas as classes, desde os mandantes aos praças.

A Granada, de ouro para oficiais, em prata para cadetes, em seda branca para os sargentos e em lã branca para os soldados, era destinada a ser usada bordada no braço direito e consistia do desenho de uma granada tendo por objetivo distinguir todos os militares de infantaria que participaram na campanha. Era o mesmo tipo de granada que sempre havia identificado os granadeiros, tradicionalmente a élite dos regimentos de infantaria portuguesa.

A Peça, de prata para os oficiais e cadetes,  de seda branca para os sargentos e de lã da mesma cor para os praças, para usar também bordada no braço direito, premiava por sua vez todos os militares de artilharia. Apesar do decreto estipular que a peça deveria ser de prata para todos os oficiais, podemos observar na imagem do brigadeiro Jorge Frederico Lecor, que terá havido o hábito, oficial ou não, de usar a insígnia em ouro, igualando o ouro usado na Granada dos oficiais de infantaria.

Começa assim a epopeia das medalhas de campanhas, ainda no século XVIII, comemorando os feitos dos soldados portugueses e por eles portadas em símbolos de distinção e honra.

[1] SOARES, Joaquim Pedro Celestino (1869), Additamentos aos Quadros Navaes e epopéa Naval Portugueza (tomo IV), Lisboa: Imprensa Nacional - p.19.

Fontes:
ESTRELA, Paulo Jorge (2008), Ordens e Condecorações Portuguesas 1793-1824, Lisboa: Tribuna da História.

Ligações:
“Distintivos honoríficos”, Blogue Talabarte, in: http://talabarte-marr.blogspot.pt/2011/04/exercito-auxiliar-espanha-1793-1795_17.html (com imagens dos dois decretos)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Entrudo (1734)

In: Verissimo António Ferreira da Costa, Collecção Systematica das Leis Militares de Portugal,
Tomo II, Lisboa, 1816 - p.19., Lisboa, 1816

Revista das Tropas Destinadas a Montevidéu (1816)


J.B. Debret, “Revista das tropas destinadas a Montevidéu, na Praia Grande, 1816”,
óleo sobre cartão colado sobre tela, 41,6 X 62,9


Atribuído a Jean-Baptiste Debret (1768-1848), este óleo sobre o qual nos debruçamos, está na Pinacoteca Estadual de São Paulo, desde 2007, proveniente de doação pela Fundação Estudar. Chama-se “Revista das tropas destinadas a Montevidéu na Praia Grande”.

Num estilo documental, muito comum em Debret, é-nos dado assistir à revista da Divisão de Voluntários Reaes (DVR), efetuada na Praia Grande, próximo a São Domingos, no que é hoje Niterói, na baía de Guanabara, assistida pelo já rei, e aniversariante, D. João VI, a sua esposa, Rainha Carlota Joaquina e os seus dois filhos, o Príncipe Real D. Pedro e o Infante D. Miguel. Vemo-los no grupo central, com o Marechal General William Carr Beresford (1768-1854) (de cabeça descoberta e calvo), a explicar as manobras à família real. Da esquerda para a direita, após Beresford, temos D. Miguel, com 13 anos, D. Pedro, com 17, o rei D. João VI e a rainha D. Carlota Joaquina. Atrás do real grupo, um coche descoberto, apesar de ter uma lona para quebrar o sol, com várias senhoras reais, em luto pela recente morte da Rainha D. Maria.

Em baixo, à direita, um grupo de oficiais a cavalo, afastados  de família real, o Estado Maior da Divisão, contendo o comandante da DVR, tenente-general Carlos Frederico Lecor (1764-1836), e apesar de não poder confirmar com outros retratos existentes, decerto o Ajudante-General da DVR, marechal de campo Sebastião  Pinto de Araújo Correia, os dois comandantes de brigada, brigadeiros Jorge de Avillez (Zuzarte Ferreira de Sousa) (1785-1845) e Francisco Homem de Magalhães Quevedo Pizarro (1776-1819). Completando o grupo, estão os ajudantes de ordens destes oficiais generais.
O n.º 3 da DVR, Sebastião da Silveira Pinto (1780-1830), Quartel Mestre General, estava já na ilha de Santa Catarina, com a artilharia e a cavalaria, não estando decerto presente.

O traço de Jean Baptiste Debret imortalizou a revista de 13 de maio de 1816, dia do 49.º aniversário real e que foi um dos pontos altos da passagem da divisão pelo Rio de Janeiro. Podemos ver, em toda a tela, as unidades, fundamentalmente a infantaria da divisão, forte de 3600 homens, a desenvolver manobras. Do alto dos dois morros à esquerda, pode-se ver o fumo dos disparos, das várias unidades já lá presentes. Mais próximo, no canto inferior esquerdo, vemos um oficial superior (a cavalo) dando instruções a um oficial subalterno.

O dia foi, para todos os que assistiram, memorável, pela disciplina e ordem que os soldados portugueses demonstraram, a personificação do heroísmo da Guerra Peninsular à sua frente.
Três semanas depois, a divisão embarcaria para a ilha de Santa Catarina de onde efetuará as operações militares para a pacificação da Banda Oriental ou a Invasión Luso-Brasileña. Também Debret capturou para a posteridade esse momento a 7 de junho, e iremos decerto visitar essa obra no futuro.


Ligações

Óleo na Google Art Projecto (foto de Isabella Matheus) : ver
Pinacoteca Estadual de São Paulo: http://www.pinacoteca.org.br
Desfile de 18 de dezembro de 1815, em Lisboa, também para a despedida da Divisão, mas de Lisboa: http://lecor.blogspot.pt/2011/05/desfile-de-18-de-dezembro-de-1815.html