terça-feira, 3 de maio de 2022

Clio & Marte

 


A Clio & Marte é um espaço para colecionadores, estudiosos e amantes de História militar, determinado na divulgação de peças históricas, como medalhas, emblemas, distintivos, livros que já não estão em circulação, com um forte interesse em Portugal e Brasil. 
Clio, a musa grega da História, e Marte, o deus romano da guerra, simbolizam a junção divina que faz mexer o colecionador e a sua necessidade de explorar novas peças. Pela divulgação da Falerística, da História e ao serviço do colecionador.


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Medalha de Distinção ao Exército Cooperador da Boa Ordem [Pernambuco,1824]

 


Medalha de Distinção ao Exército Cooperador da Boa Ordem

(Primeira) medalha de distinção ao Exército Cooperador da Boa Ordem, por operações contra a revolta em Pernambuco em 1824, a Confederação do Equador. Foi criada a 20 de Outubro de 1824, e estendida à Marinha a 7 de fevereiro de 1825 (apenas ao pessoal da corveta Maria da Glória). Foi criada juntamente com a segunda Medalha de Distinção "Aos mais bravos".

Fita

Dourada, com as bordas verdes. Sobre a fita um passador de metal com a palavra 'CONSTANCIA', na maioria dos exemplares.

Era usualmente usada no peito esquerdo, mas os oficiais generais podiam usá-la de gravata em dias de gala. 

Graus/metal

Ouro para oficiais generais; prata para outros oficiais e cobre para praças.

Desenho

Cruz de Malta pommetée (pontas em forma de maçaneta), encimada pela coroa imperial. O centro é circular.

Anverso: A efigie  de D. Pedro I, tendo em volta a legenda 'PETRUS I BRASILIAE IMPERATOR' (em certos exemplares (noutros, um círculo de estrelas ou ainda, uma ramagem. Nos braços da cruz, a data 17-9-1824.

Reverso: Igual ao anverso, na maioria dos casos. Raramente é liso.

* * *

Existem 3 tipos diferentes de coroa imperial, com pequenas diferenças,  e dois tipos de suspensão.


Fontes

CMG Léo Fonseca e Silva (redator), Marinha do Brasil: Medalhas e Condecorações, Serviço de Documentação Geral da Marinha, Rio de Janeiro, 1983

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Medalha da Restauração da Bahia


A Medalha da Restauração da Bahia (também conhecida como Medalha da Independência) foi criada a 2 de julho de 1825, para celebrar a retirada das forças portuguesas da cidade, dois anos antes, e galardoar os oficiais e soldados do Exército. Mais tarde foi estendida aos oficiais e marinheiros da esquadra que bloqueou o porto.

No decreto que cria a medalha da Restauração da Bahia, é referido que as cores da fita serão em cinco listras verticais ao centro, verde, douradas as intermediárias e verde as extremas. O decreto foi depois estendido à Marinha  a 17 de Agosto de 1825.

Usada ao pescoço para oficiais generais em dias de gala (conforme na imagem) e em pendente para os restantes.

Foram produzidos dois tipos, um na Casa da Moeda do Rio de Janeiro e outro na Casa da Moeda da Bahia, com algumas diferenças.

Graus/metais

Ouro com resplendor em prata dourada, para oficiais generais; Ouro, com esplendor em prata, para outros oficiais; cobre para as praças.

Desenho

Oval, com resplendor em volta, tudo encimado pela coroa imperial.

Anverso: Ao centro, uma espada e um ramo de louro cruzados sob a sigla P I; sobre a sigla, a coroa imperial (exemplares do Rio de Janeiro) ou uma coroa de louros (exemplares da Bahia). Em volta, a inscrição 'RESTAURAÇÃO DA BAHIA' e, em baixo, o ano '1823'.

Reverso: A efigie de D. Pedro I (exemplares da Bahia); plano e liso nos exemplares do Rio.



João Manuel de Lima e Silva (1805-1837), Museu Júlio de Castilho, usando a medalha.

* * *

Fontes

Capitão de Mar-e-Guerra Léo Fonseca e Silva (redator), Marinha do Brasil: Medalhas e Condecorações, Serviço de Documentação Geral da Marinha, Rio de Janeiro, 1983.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Transcripto: O Homem das Condecorações (Duque de Ávila e Bolama), por Julío de Sousa e Costa

 


XIV 
O HOMEM DAS CONDECORAÇÕES 
[transcrito da obra O Segrêdo de Dom Pedro V, de Júlio de Sousa e Costa]

Em Portugal todos os homens políticos são fortemente discutidos, tenham ou não merecimento. Há um prazer, sobretudo, quando eles se prestam à caricatura; e quando lhes escorrega um pé, então  temos o céu aberto!... A poesia toma conta de Sua Excelência, em várias medidas. . . quadras, quintilhas, sextilhas, rima ligeira, alexandrina, épica... 
Enfim todos os paladares apreciados no Parnaso, a não ser que a Censura disso a estorve e faça  calar o desabafo... 

António José de Ávila, um açoreano com vontade de ser gente, conseguiu entrar na Universidade de Coimbra, onde se bacharelou em Filosofia. Entrou na política... Tornou-se notado... foi deputado em 1834; Par do Reino; Ministro dos Estrangeiros, Justiça e Fazenda; Presidente do Conselho, Conselheiro de Estado efectivo, diplomata e tudo quanto de importante havia em cargos públicos. 
Foi Marquês, foi Duque, até que um gracioso escreveu esta bela produção (1). 

O HOMEM DA VILA... 

Sou filho dum sapateiro, 
lá da Ilha do Fatal, 
e muito grande luzeiro 
na terra de Portugal!. . . 

Neste pais eu sou tudo 
e em tudo eu ponho a marca! 
e gozo com este Entrudo !. . . 
só falta ser Patriarca !. . . 

Oh ! grã pátria de lapuzes 
e de grandes parvalhões, 
tenho sessenta grã-cruzes 
e mil condecorações !!! 

O facto de ser filho do sapateiro Manuel José de Ávila, não era motivo para depreciação. O Pai é que tinha motivo de sobejo para se orgulhar de possuir um filho com valor e merecimento; e a mãe, a senhora Prudência Joaquina, tinha basta razão quando dizia, alto e bom som: 

— Há de navegar bem!... 

De facto o Duque de Ávila navegou admiravelmente e foi quem marcou no seu tempo. A Pátria deve-lhe, entre outros relevantes serviços, a atitude enérgica contra a Inglaterra quando esta Nação  nos quis arrebatar Bolama, em 1865... Entre nós esquece-se todo aquele que presta serviços relevantes. Isto já vem do tempo de Dom Manuel I... 

Possuía comendas e grã-cruzes do mundo inteiro às quais êle ligava muita estima... Não as podia pôr todas... Para isso seria necessário vestir quatro fardas, ou quatro casacas, ao mesmo tempo... 

Essa funilaria, como disse o grande e inolvidável Camilo, tinha-a êle carinhosamente guardada em quatro caixas almofadadas, onde repousavam, em boa e santa camaradagem, o leão da Holanda, o elefante da Dinamarca; o falcão branco, de Saxe-Weimar; a águia branca, da Rússia; a águia vermelha, da Alemanha. Além desta bicharia, e a guardá-la, lá estavam santos: Santo André, da Rússia; Santo Olavo, da Noruega, os Serafins, da Suécia, etc. Também havia o crescente e a meia lua otomanas, cruzes, colares, placas de comendador, etc. Podia pôr uma loja... 

Dom Pedro V, que detestava os penduricalhos inúteis, como costumava dizer, somente usava, com desvanecimento, a medalha comemorativa da febre amarela, que lhe fora oferecida em 1859, pela Câmara Municipal de Lisboa, e o hábito da Torre e Espada. O soberano era parcimonioso na outorga  das condecorações e dizia com convicção: 

— Poucos, pouquíssimos, as merecem!... 

O Duque de Ávila e Bolama não as devia recusar, é certo, mas gostava delas... E não o largavam!... Em 1859 dispararam-lhe esta quadra que teve um grande sucesso: 

O sr. António da Vila, 
em política grão trombone, 
lá está na primeira fila 
e com a medalha Cadastrone! 

Se havia coisa que mais aborrecesse o célebre político era darem-lhe o apelido da Vila em lugar de Ávila. 

— E nós a julgarmos que ele era vilão!!! tornavam os contrários que não perdiam ocasião de o troçar... Mas é! É com certeza!... 

Como êle fizera um relatório sobre o Cadastro, e por sinal bem elaborado e indicador de providências úteis e altamente interessantes, alcunharam-no de Cadastrone, com o que êle, também, deveras embirrava ! . . . 

Em Maio de 185 7, sucedeu na pasta da Justiça ao 1.º Visconde do Freixo (Vicente Neto de Paiva), e em Março de 1858, na mesma Secretaria de Estado, sucedeu a José Silvestre Ribeiro... Os vates produziram nova versalhada que alguém meteu na caixa dos requerimentos que Dom Pedro V tinha mandado colocar no átrio do Paço das Necessidades. . . 

O António Zé da Vila, 
a inteligência castiça 
que tudo, tudo assimila, 
vai outra vez p'r'á Justiça !. . . 

O António Zé da Vila, 
de medalhas o chupão, 
põe as comendas em fila 
no brilhante fardálhão . . . 

O António Zé da Vila, 
que é amigo do Talone, 
para a comenda s'engrila. . . 
a comenda de Cambronnef. . . 

Não o largaram com chufas algumas bem injustas!... Mas se isto é já pecha portuguesa, não temos, portanto, muito que estranhar!... Há de haver fatalmente no Parnaso, além das nove musas, uma cidadã trocista que inspira a poética epigramática portuguesa.., Apolo, chefe daquela tropa, e, segundo Camões, dispensador de graças aos portugueses, não faltou, com certeza, com uma inspiradora à troça dos costumes lusitanos, o que já vem do tempo antigo das conquistas e navegações, como se vê da leitura dos cartapácios antigos. . . 

A sátira substituiu um pouco as arremetidzis de capa e espada, estas, às vezes, menos sangrentas que aquelas.

Poderam os inimigos do Duque de Ávila ter dito enormidades, injustiças e propalado versos; o que é facto, porém, é que o filho do humilde sapateiro da Ilha do Fayal não foi nulidade, como muitas que, depois, e até no seu tempo, foram elogiadas desmarcadamente ! Cometeu erros políticos, porém não tantos como os seus antagonistas; diligenciou acertar e prestou grandes serviços. Outros, com menos predicados, vemos exalçados, quando, afinal, não fizeram nem a décima parte do que ele fêz!... 

A História Política do nosso País foi sempre assim feita!... O homem das condecorações, como lhe chamavam, não cometeu indignidadesl. . . Serviu a sua gente, como êle dizia, cofiando as suíças; serviu a regedoria e distribuiu as postas para ter correligionários e amigos!... 

Não é, afina), o que faizem todos esses anjos dos grandes céus políticos da Europa, Ásia, África. Américais e Oceania? 

(1) António José de Ávila. Nasceu na Ilha do Faial, em 8 de Março de 1806, e faleceu em Lisboa, no dia 3 de Maio de 1881. Casou com D. Emília Hegnauer, austríaca.

* * *

Leia o livro na íntegra na Internet Archive [clique aqui para abrir nova janela]

Transcrito de
Júlio de Sousa e Costa, "XIV - O Homem das Condecorações" in: O segrêdo de Dom Pedro V (1837-1861), Romano Torres, Porto. pp. 148-153

Imagem
Retrato do Duque d’Ávila e Bolama - Miguel Ângelo Lupi, 1880 (Museu Nacional de Arte COntemporânea, Lisboa. Wikicommons: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Retrato_do_Duque_d%E2%80%99%C3%81vila_e_Bolama_-_Miguel_%C3%82ngelo_Lupi,_1880.png 

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Paranhos, o monte das Medalhas (Porto, 29 de Setembro de 1832)


A defesa desesperada do monte de Paranhos, nas acções de 29 de Setembro de 1832, por entre toda a linha, alterou a toponímia do Porto, ainda que por algum tempo. O monte de Paranhos passou a ser chamado de monte das Medalhas, no atual Monte Pedral, em Paranhos . O coronel Soares Luna escreve sobre isso nas suas memórias, assim como a terrível luta que se manifestou nesse dia:

«[…] Continuo a mencionar os actos de valor que no dito memorável dia 29 de Setembro de 1832 presenciei. O inimigo, que incontestavelmente carregou com a maior parte das suas forças a direita da nossa linha, não foi contudo menos audaz em frente do Carvalhido , no empenho que mostrou (durante o ataque na direita) em tomar o monte de = Paranhos = chamado depois = O monte das Medalhas = posição de que se apossou e da qual foi desalojado; que tornou a ocupar , donde novamente foi expelido ; que por terceira vez tomou a ganhar praticados pelos nossos bravos Infantes, pelo aturado e mortífero fogo das peças do meu comando, bem como pelo bem dirigido fogo de artilharia dirigido da bateria da Gloria, o que tudo contribuiu para que o inimigo jamais pudesse estabelecer-se no dito monte.

Repito, o inimigo ali não foi menos atrevido ; mas igualmente foi rechaçado como então o foi na direita da nossa linha. Muitos dos nossos bravos valorosamente expiraram naquele dia do distinto Corpo do meu comando, nós tivemos a lamentar a morte dos valentes Académicos N.° 5 Furriel José da Costa Duarte, Soldado N.° 60 Joaquim Pedro Damásio, dito N.° 129 Francisco Pinto de Resende Sá da Bandeira, mortos no monte que tão disputado foi ; e que como fica dito, passou a ser chamado = o Monte das medalhas = alusivo ás condecorações que se deram aos bravos que tão denodadamente o tomaram, retomaram , e sustentaram. —

Quando no meu ponto assim nós defendíamos a direita da nossa linha estava sendo fortemente atacada ; mas em toda a parte o valor do homem livre fez prodígios. Cansado o inimigo de perder gente vergonhosamente desistiu do ataque, retirando-se na mais completa desordem , depois de haver perdido mais de cinco mil homens, duas peças de artilharia , e um obús, tudo de campanha , deixando ao mesmo tempo alguns prisioneiros.»


* * *

Nota
De acordo com a Lista Geral de Officiaes do Exército Libertador (Lisboa, 1835), e por Decreto de de 3 de Outubro foram atribuídas as seguintes Ordens da Torre e Espada, referentes decerto a esteve evento, mas também a outros antes em várias partes das linhas:

Oficiais: 17
Cavaleiros: 48

Fonte
João Pedro Soares Luna, Memorias Para Servirem à Historia dos Factos de Patriotismo e Valor Praticados pelo Distincto e Bravo Corpo Académico que fez Parte do Exercito Libertador, Typographia Lisbonense, Lisboa, 1837. pp. 231-233

sábado, 13 de junho de 2020

Transcrição: A génese da Ordem da Torre e Espada (1808)



A seguinte transcrição é de uma carta não data a e anónima, dirigida ao Príncipe Regente D. João. Apresenta uma proposta de criação de ordem civil, que vem a ser a Ordem da Torre e Espada, apresentando a Ordem da Espada, criada por D. Afonso V a usar.
Pelas pistas cronológicas encontradas no texto, a carta terá sido escrita em Salvador, nos inícios de 1808 quando D. João lá aportou após sair de Lisboa perante a ameaça francesa. O autor refere que só no Rio de Janeiro se deverá oficializar a Ordem, indiciando que a corte estava ainda em Salvador.
Apesar de não haver pistas quanto à autoria, gostaria de deixar aqui um forte candidato, D. António Araújo de Azevedo, não só por ascender ao governo nesta altura e às graças do príncipe, mas também por ser membro de uma organização europeia de cavaleiros de Ordens. Não sei se foi ele, mas é, sem dúvida, uma forte possibilidade.

«Crear huma Ordem nova fóra de occazião, sem haver para que não me atrevera a aconselhar a S. A. R. muito mais circunstâncias de mil embaraços em que se devem fazer grandes coizas, como já se tem feito algumas, mas somente as necessárias. Com tudo porem he precizo confeçar que logo que S. A. R. se visse precizado por huma total e indespençavel necessidade a condecorar algums Estrangeiro com esta qualidade de Merce, não podendo conferir-lhe nenhuma das 3 Ordens Militares establecidas, por ser de diferente comunhão, não haveria outro remedio se não o de instituir de novo huma Ordem civil. Ora para o fazer de proposito com o fim de premiar hum homem só, sêria precizo que este tivesse feito relevantes serviços. Era portanto para dezejar que o Comandante da unica Nau Ingleza que teve o feliz successo de nunca largar S. A. R. e que alias tem feito todo o possivel por lhe agradar, se contentasse com huma boa Joia, principalmente com o retrato do Principe, com que se costumão contentar os maiores Generaes.

Porem esta condescendencia não está na Mão de Sua Alteza Real. No cazo que não possa vencer-se sem grande desconsolação, supostas algumas antecendencias, ou mexericos, resta ver e pezar se convem descontentar este Official e aos mais da Marinha Ingleza por huma coiza que se poderá fazer mais pequena do que parece à primeira vista: e se o Coração de S. A. R. que se acha empenhado em fazer Mercê a este homem que salta de contente por levar huma distinção daquelle genero, e regeita tudo o mais, consentirá em que se uze com elle de hum rigor ou escrupulo demaziado. O qual talvez seja fóra de occazião o negar-se-lhe, e muito proprio conceder-se-lhe h'uma epoca tal, que obriga de necessidade a olhar muito para a sua e nossa Marinha.

Por ventura hade ser o Principe o unico Soberano que não póssa dár huma Ordem a quem muito quizer, não tendo nenhuma que dar a algumas Pessoas, como succede com este Comandante, que não tem a felicidade de ser Catholico Romano. E quantas occaziões destas aparecerão daqui por diante. Deve pois fazer como os mais Principes fazem, e constituir huma de novo, que seja apta para todos.

Hé por tanto de considerar como se hade instituir huma Ordem, que aproveite para o futuro, e que sirva para o cazo presente, sem parecer que se fez de proposito por amor de hum só homem, que não tem feito serviços para tanto, mas sim em favor da nossa Marinha em huma epoca em que a Marinha Portugueza talvez seja a mais util e necessaria do que serão as Tropas de terra. E que a primeira pedra sua creação seja lançada na Bahia, por ser a primeira terra do Brazil aonde S. A. R. aportou, considero muito a proposito.

Não importa, antes hé muito conveniente que se não complete esta obra desde logo, e que se vá aperfeiçoar ao Rio de Janeiro para não acuzar pressa e ligeireza. Basta que a data da sua creação seja da Bahia, e que se anuncie já qual hade ser a venera com a sua legenda e exergua: Se se podesse aqui fundir na caza da Moeda em tão poucos dias, sêria de estimar, quando não se aprezentando-se o desenho a S. A. R., e sendo por elle approvado, está feito tudo quanto hé necessario.

Para dar tom a esta Ordem, sem o qual não póde ter a estimação devida, seria precizo fazer logo hum General do Mar, com a Patente que tiverão o Senhor D. João e o Marquez de Angeja, assentando bem este grande Posto na Pessoa do Duque do Cadaval, principalmente nas actuaes circunstancias, e para o fim de se lhe conferir esta Ordem em primeiro lugar do que a todos. Segue-se depois o Vice Almirante, que teve a honra de acompanhar S. A. R.: o 3.º deve ser o Cappitão da unica Nau Ingleza que acompanhou S. A. R. a este Porto. No Rio de Janeiro se regulará dahi por diante tudo o mais que lhe pertencer.

Não pode haver coiza mais simples nem mais abreviada para não cauzar espanto, com tudo eu ainda insisto em que melhor sêria contentar o Inglez, se fosse possivel por bons modos, com o retrato de S. A. R.; principalmente achando votos contrarios negativos, que quazi sempre são os melhores e mais seguros. Não dezejo que se siga o meu conselho quando hé solitario.

Fundo-me porem em que todos os Principes tem Ordens para darem a Estrangeiros: Que o corpo da Marinha Portugueza, principal objeto desta Instituição, merece ser muito considerado. Que não só se deve ganhar o Governo de Inglaterra, mas as Pessoas que vierem ajudar-nos: Que o modo que tenho declarado, e porque entendo se deve isto fazer, não hé de muito aparato: E finalmente, que não hé a 1.ª Ordem Civil que se inventou neste Reybo, porque El Rey D. Affonso 5.º chegou a formalizar huma Ordem chamada da Espada, como se póde ver na Historia Geneologica de Souza, tomo 3.º, pag. 6.ª; cuja exergua se deve aproveitar agora por memoria antiga, suposto que não hé muito feliz, mas a repetição val nestes cazos.

E sobre tudo seguro-me mais em que me foi ordenado por S. A. R.; que visse se se podia descobrir algum caminho para o cazo que se propunha, e não achando outro de menos espinhos, satisfaço com apontar em duvida e com temor, aquelle que me lembra: fala o coração, e o dezejo de livrar a S. A. R. de hum embaraço que o aflige, e o entendimento suposto duvida, não repugna pelas razões que tenho declarado.»



Fonte
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Manuscrito, II-31,03,002 - Manuscritos (cota: mss1289260)

A versão digitalizada do manuscrito pode ser vista em http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html .

segunda-feira, 2 de março de 2020

Medalha Comemorativa: D. Pedro V - Expedição de Angola 1860


Medalha de D. Pedro V

Criada a 15 de Abril de 1862, para comemorar a campanha de Angola, que decorreu entre 1859 e 1860 no norte dessa província, nomeadamente a forte expedição que partiu do Continente e de Moçambique, mas também algumas forças do exército colonial. Em causa estava a sucessão do reino do Congo, com o epicentro em S. Salvador do Congo, hoje Mbanza Kongo.

Era entregue em grau ouro aos chefes de força, em grau prata aos restantes oficiais, e em cobre aos sargentos e praças. 

Na foto de topo a condecoração é a grau Ouro atribuída ao capitão tenente Baptista de Andrade (1811-1902), chefe de uma das colunas do exército durante a campanha, em exposição no Museu da Marinha. Recomendo fortemente uma visita a este excelente museu [visite].

Grau Cobre, anverso.
A medalha foi desenhada por Augusto Fernando Gerard, importante gravador e artista que pode conhecer melhor Aqui. De notar a assinatura "A.F.G. F[ecit]" na base da éfige.



A fita era originalmente para ser azul ferrete, como ficou, com as margens em branco. No entanto, para não ficar igual à medalha das Campanhas da Liberdade, alterou-se para dourado.

Ainda na sua criação em lei, o ano a colocar no reverso era 1859, mas foi corrigido para 1860, conforme se pode ver nas duas leis que criaram e regulamentaram a condecoração.

A fita recebe ainda, como é frequente na falerística portuguesa, uma fivela com o metal relativo ao grau correspondente.


Grau Cobre, reverso.

Textos de lei que instituem a medalha e correção posterior:


Considerando de manifesta utilidade e reconhecida justiça honrar os serviços prestados à pátria, e perpetuar a memoria dos sacrifícios feitos pela nação ; Considerando que por esta forma se estimulam as nobres aspirações e os brios generosos; Considerando digna de especial menção e recompensa a expedição enviada a Angola no ano de 1859, assim pela arriscada crise em que se realisou, como pelas funestas consequências que preveniu: hei por bem, dando execução ao expresso pensamento de meu muito amado e sempre chorado irmão o Senhor Rei D. Pedro V, de abençoada memoria, instituir uma medalha comemorativa da dita expedição, que se denominará — Medalha de D. Pedro V —, e será distribuída a todos os indivíduos que na mesma expedição tomaram parte, qualificados estes em três classes; chefes de forças, oficiais e praças de pré, marinhagem ou tropa : devendo aos primeiros competir a medalha cunhada em ouro, aos segundos em prata, e aos terceiros em cobre; e devendo mais a referida medalha, que de um lado terá a effigie de Sua Majestade o Senhor D. Pedro V, e do outro a letra — Expedição de Angola: 1859ser usada pendente de fita azul escuro, orlada de branco. O ministro e secretario de Estado dos Negócios da Marinha e ultramar assim o tenha entendido e faça executar. Paço em 15 de Abril de 1862. — REI — José da Silva Mendes Leal.
*


Considerando indispensável rectificar a data que entra na letra da medalha de D. Pedro V, comemorativa da expedição de Angola, e instituída pelo decreto de 15 de Abril do corrente ano, pois que a expedição referida se efetuou no ano de 1860; Considerando também conveniente alterar a ordenança das cores na fita da mesma medalha, para que não possa confundir-se com a denominada de D. Pedro e D. Maria, criada por decreto de 16 de Outubro de 1861 : hei por bem determinar: primeiro, que a letra da medalha de D. Pedro V, exarada no precitado decreto de 15 de Abril do corrente ano, seja substituída: — Expedição de Angola: 1860 — ; segundo, que a fita correspondente seja de cor azul ferrete, orlada de amarelo. O ministro e secretario de Estado dos negócios da marinha e ultramar assim o tenha entendido e faça executar. Paço em 12 de Junho de 1862. — REI — José da Silva Mendes Leal.