sexta-feira, 10 de julho de 2020

Paranhos, o monte das Medalhas (Porto, 29 de Setembro de 1832)


A defesa desesperada do monte de Paranhos, nas acções de 29 de Setembro de 1832, por entre toda a linha, alterou a toponímia do Porto, ainda que por algum tempo. O monte de Paranhos passou a ser chamado de monte das Medalhas, no atual Monte Pedral, em Paranhos . O coronel Soares Luna escreve sobre isso nas suas memórias, assim como a terrível luta que se manifestou nesse dia:

«[…] Continuo a mencionar os actos de valor que no dito memorável dia 29 de Setembro de 1832 presenciei. O inimigo, que incontestavelmente carregou com a maior parte das suas forças a direita da nossa linha, não foi contudo menos audaz em frente do Carvalhido , no empenho que mostrou (durante o ataque na direita) em tomar o monte de = Paranhos = chamado depois = O monte das Medalhas = posição de que se apossou e da qual foi desalojado; que tornou a ocupar , donde novamente foi expelido ; que por terceira vez tomou a ganhar praticados pelos nossos bravos Infantes, pelo aturado e mortífero fogo das peças do meu comando, bem como pelo bem dirigido fogo de artilharia dirigido da bateria da Gloria, o que tudo contribuiu para que o inimigo jamais pudesse estabelecer-se no dito monte.

Repito, o inimigo ali não foi menos atrevido ; mas igualmente foi rechaçado como então o foi na direita da nossa linha. Muitos dos nossos bravos valorosamente expiraram naquele dia do distinto Corpo do meu comando, nós tivemos a lamentar a morte dos valentes Académicos N.° 5 Furriel José da Costa Duarte, Soldado N.° 60 Joaquim Pedro Damásio, dito N.° 129 Francisco Pinto de Resende Sá da Bandeira, mortos no monte que tão disputado foi ; e que como fica dito, passou a ser chamado = o Monte das medalhas = alusivo ás condecorações que se deram aos bravos que tão denodadamente o tomaram, retomaram , e sustentaram. —

Quando no meu ponto assim nós defendíamos a direita da nossa linha estava sendo fortemente atacada ; mas em toda a parte o valor do homem livre fez prodígios. Cansado o inimigo de perder gente vergonhosamente desistiu do ataque, retirando-se na mais completa desordem , depois de haver perdido mais de cinco mil homens, duas peças de artilharia , e um obús, tudo de campanha , deixando ao mesmo tempo alguns prisioneiros.»


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Nota
De acordo com a Lista Geral de Officiaes do Exército Libertador (Lisboa, 1835), e por Decreto de de 3 de Outubro foram atribuídas as seguintes Ordens da Torre e Espada, referentes decerto a esteve evento, mas também a outros antes em várias partes das linhas:

Oficiais: 17
Cavaleiros: 48

Fonte
João Pedro Soares Luna, Memorias Para Servirem à Historia dos Factos de Patriotismo e Valor Praticados pelo Distincto e Bravo Corpo Académico que fez Parte do Exercito Libertador, Typographia Lisbonense, Lisboa, 1837. pp. 231-233