quinta-feira, 29 de março de 2018

Gravador: José Sérgio de Carvalho e Silva (1856-1945)


Na senda ainda, e sempre, da tipologia da Medalha Militar de 1863, apresento um recorte de "O Tiro Civil", n.º 135 de 1.4.1898, acerca do gravador José Sérgio de Carvalho e Silva (1856-1945), sobre o qual coloco a hipótese de ser o gravador do mais comum modelo da medalha, assinada "S. SILVA", possivelmente associado à casa Frederico Costa, Lda.
Natural de Évora, foi pupilo de Venâncio Alves e entrou como aprendiz na Casa da Moeda em 1886, tendo ficado Praticante em 1894. Terá sido ele também o autor de vários modelos da Medalha Militar (1917) e da Medalha de Campanhas (1919), que levam a assinatura "J. SERGIO".




José Sergio de Carvalho e Silva 
O facto do Tiro Civil publicar hoje o retrato de José Sérgio de Carvalho e Silva constitue uma homenagem com que muito uns honramos, pois com dia prestamos um justo preito a um artista distincto, que é tambem nosso partícularissimo amigo.
Nasceu José Sergio de Carvalho e Silva em 9 de Setembro de 1856 e é filho de Francisco Nunes de Carvalho e Silva. Distincto artista actualmente um dos encarregados das officinas de instrumentos electricos da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes.
Em 11 de Janeiro de 1886 foi admittido na oficina de gravura da Casa da Moeda e nomeado praticante da referida oficina por decreto de 10 de maio de 1894, cathegoria official que conserva ainda, embora seja, como todos se reconhecem  habilissimo na sua arte.
Quando foi admittido n'aquelle estabelecimento oficial, era já um optimo esculptor em marfim, especialidade em que tem produzido magnificos trabalhos, como, por exemplo, uma faca para cortar papel, que figurou na ultima exposição industrial na Avenida da Liberdade.
Na Casa da Moeda, porém, recebeu do distincto gravador. e nosso amigo tambem, sr. Venancio Alves, os conselhos da sua perícia e experiencia, adquirindo assim, graças á propria  e excepcional aptidão. uma perfeição notabilissima cm trabalhos de gravura em aço, para impressão typographica.
Muitos são esses trabalhos e, entre outros, mencionaremos a moldura de alguns sellos postaes da 1.ª emissão El-Rei D. Carlos, para o continente e ultramar; estampilhas dc 2 ½  réis, actualmente cm circulação nas provindas ultramarinas: estampilha postal privativa da Companhia de Moçambique; estampilha industrial; estampilha do imposto do sello que vigorou no anno findo, e a actual; selos para recibos entre particulares; sello para taxa devida, segundo o desenho do sr. Manoel Pedro de Faria Luna e que não foi ainda posta em circulação; sello de taxa devida, commemorativo do centenario da India, etc. etc.
Este ultimo trabalho, a que já por vezes nos temos referido e a que ainda hoje alludimos na secção philateliea, é, sem duvida, a sua coroa artistica. e para o comprovar haverá por cedo, em breve, a consagração da opinião publica, que admirará a extraordinaria dificuldade de um tal trabalho, cuja primorosa execução mereceu os maiores elogios por parte do primeiro gravador francez n'aquella especialidade, mr. Eugenio Mouchon, que, por ter reconhecido em José Sergio de Carvalho e Silva uma tão notavel aptidão artistica, o convidou para o coadjuvar na execução de uma importante encommenda.
Infelizmente, porém, Carvalho e Silva não poude supportar o clima da grande Paria, e viu-se forcado a retirar para Lisboa, pouco depois de ter d'aqui partido, afim de garantir o restabelecimento da sua saude.
Terminando aqui as suas notas biographicas, aproveitamos tambem a occasião de lhe dar as boas vindas. 
J. FRAGA PERY DE LINDE. 

Anverso do grau ouro da Medalha Militar, classe de Comportamento Exemplar (modelo 1917) (notar a assinatura - J. SERGIO - no lado esquerdo da base da éfige central)

Mais sobre José Sérgio em https://ruascomhistoria.wordpress.com/2017/07/19/gravadores-de-selos-postais-portugueses-18/

Gravador: Augusto Fernando Gerard (1796-1883)


Augusto Fernando Gerard (1796-1883), um dos melhores e mais prolíferos artistas não só de condecorações militares (Medalha de D. Maria II, Expedição a Angola e duas variantes da Medalha Militar), mas também de medalhas de mesa, notas, selos, etc. Aqui ficam alguns exemplos da sua arte:


MEDALHA MILITAR
Na esquerda, os dois modelos assinados AFG.



MEDALHA DE ANGOLA 1860




* * *

A revista Occidente publicou o seguinte texto, por ocasião da sua morte em 1883:

“O exímio artista, de que damos o retrato a página 144, nasceu em Paris em agosto de 1796, na freguesia de Santo Eustáquio, mas quase se pode considerar português, porque veio para Portugal na idade de 18 anos, e aqui viveu até aos 86 anos, falecendo no dia 29 de maio ultimo [1883], em sua casa na rua Nova do desterro, 40, 1.º, pelas 3 horas da tarde.
Aos 18 anos de idade, Gerard não seria um artista consumado, entretanto tinha cursado a escola de Belas Artes de Paris, onde fora premiado e estava ao facto dos processos práticos da sua arte, quando veio para Portugal contratado para a oficina de ourivesaria de Santos Leite, em Braço de Prata.
Foi nos trabalhos de esmalte, em que principalmente começou a revelar a sua aptidão e conhecimentos artísticos. Era o esmalte por essa época (1820) feito a buril, Gerard operou a sua completa transformação, introduzindo o sistema de cunho, o que teve grande alcance económico.
Logo que terminou a escritura que tinha feito com a dita casa, foi Gerard convidado para os trabalhos do Banco de Lisboa, e depois de Portugal, do qual foi, durante muitos anos, gravador efetivo, e para o qual depois trabalhou nos períodos convenientes.
Quando o seu belo trabalho das notas gravadas em cobre entrou no domínio do público causou geral admiração, e Gerard foi desde logo notado entre os artistas de maior renome.
Pouco depois o Banco do Porto convidava Gerard a ir aquela cidade, fazer trabalho semelhante com relação às suas notas, e não obstante a perfeição da execução dele e os incómodos maiores da jornada, por não existir ainda caminho de ferro, foi considerada tão modesta a conta que Gerard apresentou da importância do seu trabalho (400$000 reis) que a direção do Banco julgou deve-la dobrar, gratificando o exímio artista com 800$000 reis.
Nunca mais lhe faltou trabalho, e a carreira do artista acha-se assinalada em todos esses cunhos de carácter mais ou menos oficial.
Todas as chapas necessárias para a Junta do Crédito Público, gravadas em cobre, selos em relevo para várias dignidades eclesiásticas e secretárias.
A direção da casa da moeda convidou-o por vezes para coadjuvar os trabalhos de gravura, apresentando belos modelos de estampilhas.
São do seu buril as medalhas da inauguração do caminho de ferro de Leste, que reproduzimos hoje em gravura, das Academias de Belas Artes de Lisboa e Porto, de D. Maria II ao mérito, da Associação dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, da Exposição Internacional do Porto, para premiar os expositores, da Real Associação Naval, da Exposição Agrícola do Porto e outras de grande merecimento artístico.
Era académico de mérito da Academia de Belas Artes de Lisboa, e fora premiado com a medalha de prata da Exposição do Porto.
Seria longo especializar os trabalhos de Gerard, e foram precisas muitas pesquisas, que a escassez de tempo não permite, para agrupar todos os gravados saídos do seu buril.
Causará decerto assombro saber que dois meses antes do seu falecimento ainda gravava tanto em cunho, como em cobre, e são suas últimas obras, a medalha que, muito instado, fez para a Sociedade Promotora do Apuramento das Raças Cavalares, e uma chapa de cobre para bilhetes de visita do sr. Serzedelo Júnior. Estes trabalhos desempenhados com precisão, nitidez e segurança na avançada idade de 86 anos eram e são admirados dos próprios artistas.
Decano dos gravadores em metal, o eminente artista era para todos os novos artistas, um guia seguro, um mestre benigno, um pai cuidadoso. Quem precisasse do seu ensino, do seu conselho, recorrendo a ele, estava seguro de o encontrar são, benevolente e prestadio; ele explicava-lhe os segredos da arte, ele retocava-lhe os seus trabalhos, pródigo sempre do seu saber, do seu génio artístico.
Era um perfeito cavalheiro, e como artista para os seus irmãos, ou melhor para seus filhos e discípulos na arte desmentia o nosso provérbio que diz que «o teu maior inimigo é o oficial do teu ofício.»
Mas Gerard, nem exercia ofício, nem era um artífice, era artista, e exercia nobremente a sua arte.
Os artistas choram-no todos e este é o seu melhor brasão.”


in: Occidente: Revista Ilustrada de Portugal e do estrangeiro, n.º 162, Volume VI, 21 de Junho de 1883 [Transcrição com modernização ortográfica.]

quarta-feira, 28 de março de 2018

Evolução da Ordem de Precedência das Ordens e Condecorações Portuguesas (1946-2002)



Aqui vos deixo a evolução da ordem de precedência do uso militar das ordens e condecorações portuguesas de 1946 até hoje, com a legislação que pude encontrar (e que creio estar completa para este período), com a indicação de subidas e descidas em relação umas às outras (e sem ter em conta para isso, novas entradas).

Oferece uma visão de pormenor sobre a evolução legislativa das ordens e medalhas portuguesas e, cumulativamente, uma visão também da evolução social e de prestígio delas, conforme era prescrito o seu uso no uniforme das Forças Armadas.